sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Companheirismo


“Quem quer que seja depositário da autoridade seja qual for a sua extensão, desde o senhor sobre o seu servo até o soberano sobre o seu povo, não pode negar que tem o encargo de almas e responderá pela boa ou má direção que tenha dado aos seus subordinados, e as faltas que estes puderem cometer, os vícios a que forem arrastados em conseqüência dessa orientação ou dos maus exemplos recebidos recairão sobre ele. Da mesma maneira, colherá os frutos de sua solicitude, por conduzi-los ao bem. Todo homem tem, sobre a terra, uma pequena ou uma grande missão. Qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem. Desviá-la, pois, do seu sentido, é fracassar no seu cumprimento.”
(Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Capítulo XVII. Sede Perfeitos, Superiores e Subalternos
François Nicolas Madeleine).

O egoísmo de competição reinante entre grupos e pessoas tem gerado desentendimentos, incompatibilidades, desuniões.
As divergências de opiniões no tocante à Doutrina espírita, “a maioria das vezes, versam apenas sobre acessórios, não raro mesmo sobre simples palavras. Fora, portanto, pueril constituir bando à parte por não pensarem todos do mesmo modo”.
(Allan Kardec. O Livro do Médiuns.Segunda Parte
Capitulo XXIX. Das reuniões e das Sociedades Espíritas.
Rivalidades entre as Sociedades.)

“Os que pretendem estar exclusivamente com a verdade, terão que o provar, tomando por divisa Amor e Caridade, que é a de todo verdadeiro espírita. Quererão prevalecer-se da superioridade dos Espíritos que os assistem? Provem-no, pela superioridade dos ensinos que recebam e pela aplicação que façam deles a si mesmos. Esse é o critério infalível para se distinguir os que estejam no melhor caminho.” (Id., ibid.)
Queremos nos referir em particular ao espírito de companheirismo e prevalecer entre os irmãos de ideal espírita, imbuídos todos nos aperfeiçoamento próprio e coletivo.
“Se o Espiritismo, conforme foi anunciado, tem que determinar a transformação da Humanidade, só poderá fazê-lo melhorando as massas, o que se verificará geralmente, pouco a pouco, em conseqüência do aperfeiçoamento dos indivíduos.” (Id., ibid.)
“Convidamos, pois, todas as sociedades espíritas a colaborar nessa grande obra. Que de um extremo a outro do mundo elas se estendam fraternalmente as mãos, e eis que terão colhido o mal em indeslindáveis malhas.” (Id. Ibid.). O que precisamos, estimados confrades, é desenvolver o companheirismo, combatendo o personalismo por todos os meios, para não desviarmos a nossa missão de produzir e propagar o bem que a Doutrina nos ensina.
Citemos, então, ao menos algumas oportunidades que, no nosso entender, possam nos fazer melhores companheiros:

a) Renunciando às nossas posições rígidas tomadas na direção ou na liderança dos agrupamentos sociais ou religiosos, quando comprometem a união de esforços no trabalho evangélico;
b) Considerando em igualdade de condições os pontos de vista dos demais integrantes, mesmo que exerçamos o predomínio das idéias no grupo de serviços cristão;
c) Criando atmosfera impessoal e unindo colaboradores nas tarefas comuns, desenvolvidas na seara do Cristo;
d) Aceitando as idéias ou pareceres dos outros, que mais convenham em resultados produtivos, mesmo que contrários aos nossos;
e) Emprestando a mesma parcela de trabalho em grupo, independentemente da posição de dirigido ou dirigente;
f) Superando os melindres próprios, quando esquecidos em alguma referência ou convite cerimonial;
g) Omitindo-nos sempre que possível nas ocasiões de destaque para fazer sobressair os trabalho em equipe;
h) Evitando a crítica desdenhosa, a colaboradores ou a grupos, por tarefas não cumpridas;
i) Prestigiando as boas iniciativas com nosso estímulo e apoio no âmbito das atividades beneméritas;
j) Esquecendo experiências desagradáveis já passadas, envolvendo irmãos de ideal;
k) Ouvindo críticas pessoais feitas a nós sem irritação, tirando delas o melhor proveito nas correções que sempre precisamos fazer;
l) Silenciando o verbo ou a escrita na abertura ao público de aspectos desabonáveis, a pessoas ou a instituições co-irmãs, mesmo em defesa da pureza dos postulados que abraçamos.
“O superior que estiver compenetrado das palavras de Jesus não desprezará nenhum dos seus subordinados, pois sabe que as distinções sociais não existem perante Deus. Ensina-lhes o Espiritismo que se hoje eles obedecem, talvez já lhe tenham dado ou venham a dar ordens amanhã, e então será tratado da mesma maneira pela qual os tratar agora.” (Id., ibid.)

texto do livro Manual Prático do Espírita de Ney P.Perez

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

NOVO HORÁRIO DE ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL


Olá pessoal,a nossa Casinha á partir do dia 14/09/09 terá mais um horário de assistência espiritual!Será as 14:00hs.atendendo a pedidos de pessoas que não podem frequentar o horário das Terças abriremos mais este!Divulguem !

abraços fraternos!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Personalismo




“O egoísmo se funda na importância da personalidade; ora, o Espiritismo bem compreendido, repito-o, faz ver as coisas de tão alto, que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma perante a imensidão. Ao destruir essa importância, pó pelo menos ao fazer ver a personalidade naquilo que de fato ela é, ele combate necessariamente o egoísmo.”
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos.
Livro Terceiro. Capítulo XII. Perfeição Moral.
Parte da resposta à pergunta 917.)

Entre as expressões do egoísmo, vamos encontrar precisamente na grande maioria personalista as diversas formas de comportamento, e mesmo a maneira de ser, caracterizadas pelo estado íntimo de rigidez e de autoconfiança nas idéias ou opiniões próprias. Esses tipos de indivíduos, pelas suas atitudes, acarretam, quase sempre, conturbações no convívio em grupos.
Vejamos alguns dos aspectos reconhecidos nas pessoas predominantemente personalistas:

a) Suas opiniões ou ponto de vista são sempre os certos e os que devem prevalecer aos dos demais;
b) As experiências próprias são aquelas que servem de referência a resultados que se discutem com outros, desconsiderando em igual importância as experiências do próximo;
c) Em sociedades, as suas decisões e iniciativas, quando em cargo de mando, são quase sempre tomadas sem a participação dos demais;
d) Na condição de subalterno, nega-se à colaboração de um plano ou projeto quando sua idéia ou parecer não é aceito numa escolha em grupo;
e) Melindram-se na sua auto-importância quando não convidado a participar com destaque nas decisões relativas a empreendimentos do círculo que freqüenta, muitas vezes até afastando-se ou ameaçando afastar-se de suas funções;
f) Sente-se valorizado quando nas funções de comando e dificilmente aceita ser conduzido pela direção de outrem;
g) Aborrecem-se facilmente quando contrariado nos seus desejos ou idéias;
h) Num trabalho para obtenção de um resultado comum, acha ou age como se pudesse dispensar a cooperação dos demais integrantes;
i) A autoconvicção e a determinação nos seus propósitos são obstinadas até mesmo quando incompatíveis com a situação do momento e a harmonização pretendida;
j) Teimosia e birra, revivendo questões ultrapassadas e contendas já superadas, onde sua opinião não foi seguida.

O personalismo tem sido na humanidade, um fator impeditivo ao entendimento entre as criaturas. As lutas e separatismos são oriundos da inflexibilidade dos homens nas suas idéias e desejos. Dificilmente alguém cede em benefício da concórdia e renuncia aos seus anseios em proveito do bem comum. O egoísmo se manifesta acentuadamente nos tipos personalistas mais endurecidos. Para eles é difícil abrir mão das posições conquistadas e colaborar com espírito de caridade desinteressada.
O personalismo leva a não aceitação, obscurece qualquer compreensão e impede a cooperação. O individualismo pode resultar do isolamento de alguns do meio comunitário, que pela posição social, quer pela crença ou idéias políticas, filosóficas ou religiosas que adote. Esse individualismo pode agrupar homens dentro das mesmas tendência e idéias que lhes são comuns, constituindo, assim, sociedades, castas, seitas, corrente políticas, sociais e religiosas. Ainda desse modo é fator de divisões, separações e contendas.
O personalismo desagrega os grupos, destrói a força de união, enfraquece o espírito de colaboração, incrementa a competição, amplia a luta pela supremacia, leva à discórdia e às querelas, conduz a agressão, aos embates e até as guerras.
Ainda não aprendemos a viver num clima de cooperação, de auxílio mútuo, trabalhando juntos e unidos dentro de um objetivo, visando ao bem comum. O espírito de companheirismo, de confraternização, só será alcançado quando aprendermos a renunciar e a nos desprender do exclusivismo individual.
Ainda não entendemos com profundidade que “o saber não é tudo; o importante é fazer e, para fazer, homem nenhum dispensa a colaboração e a boa vontade dos outros”.
A importância e a superioridades que queremos dar à nossa participação, algumas vezes no próprio âmbito da tarefa doutrinária, é precisamente reflexo do nosso personalismo, da necessidade de reafirmação e da nossa vaidade. Não seremos nós que avaliaremos os resultados dos nossos trabalhos e aquilataremos a sua importância. O Plano Maior é que terá os meios de pesar os frutos do empreendimento social ou religioso ao nosso alcance, cuja relevância muitas vezes enfatizaremos na nossa maneira apaixonada de ver as coisas.
Aquele que varre diariamente o chão, como parcela de auxílio, e nessa incumbência coloca todo o seu amor e desprendimento, poderá estar dando muito mais do que aquele que ensina por palavras, escreve páginas brilhantes ou exerce cargos de direção. Como o personalismo tem prejudicado o avanço da Doutrina de Jesus! O que ainda vemos são as divergências típicas de colocações e de pontos de vista, de posições filosóficas, e, em decorrência disso, as divisões; como se animosidades oferecessem algum resultado prático e objetivo. No tocante à Doutrina dos Espíritos, entendemos que a mesma dispensa defensores, zeladores ou guardas-de-honra; ela é verdadeira e evidente por si mesma. No entanto, precisa, sim, dos exemplos dos seus seguidores, para que seja cada vez mais respeitada pelos que não a conhecem. Diz-nos o próprio Codificador: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que empresa para dominar suas más inclinações”.
Esse ainda é um desafio, e se preferirem, um paradigma que pode muito bem qualificar aqueles que se dizem seus adeptos e que se colocam como seus ardorosos defensores ou líderes, mas que resvalam exatamente nas exacerbações do personalismo, esquecidos de aplicar o esforço próprio no domínio das más inclinações. Só pelos frutos do trabalho conjunto, mais irmanados e menos pretensiosos, portanto menos personalistas, é que valorizamos em conteúdo a nossa parcela de colaboração, porque primeiro precisamos nos amar para juntos nos instruir, como ensina o Espírito de Verdade.

(Allan Kardec. O evangelho Segundo o Espiritismo.
Capítulo VI. O Cristo Consolador.
O Advento do Espírito de Verdade)


texto do livro Manual Prático do Espírita

sábado, 15 de agosto de 2009

A CICATRIZ


Um menino tinha uma cicatriz no rosto, as pessoas de seu colégio não falavam com ele e nem sentavam ao seu lado, na realidade quando os colegas de seu colégio o viam
franziam a testa devido à cicatriz ser muito feia. Então a turma se reuniu com o
professor e foi sugerido que aquele menino da cicatriz não freqüentasse mais o
colégio, o professor levou o caso à diretoria do colégio.



A diretoria ouviu e chegou à seguinte conclusão: Que não poderia tirar o menino do
colégio, e que conversaria com o menino e ele seria o primeiro a entrar em sala de aula, e
o ultimo a sair, desta forma nenhum aluno via o rosto do menino, a não ser que
olhassem para trás.
O professor achou magnífica a idéia da diretoria, sabia que os alunos não olhariam mais
para trás. Levado ao conhecimento do menino da decisão ele prontamente aceitou a
imposição do colégio, com uma condição: Que ele compareceria na frente dos alunos em
sala de aula, para dizer o por quê daquela CICATRIZ.
A turma concordou, e no dia o menino entrou em sala dirigiu-se a frente da sala de aula
e começou a relatar:
- Sabe turma eu entendo vocês, na realidade esta cicatriz é muito feia, mas foi assim
que eu a adquiri:. Minha mãe era muito pobre e para ajudar na alimentação de casa minha mãe passava roupa para fora, eu tinha por volta de 7 a 8 anos de idade... A turma
estava em silencio atenta a tudo . O menino continuou: além de mim, haviam mais 3
irmãozinhos, um de 4 anos, outro de 2 anos e uma irmãzinha com apenas alguns dias de
vida.

Silêncio total em sala.

-... Foi aí que não sei como, a nossa casa que era muito simples, feita de madeira
começou a pegar fogo, minha mãe correu até o quarto em que estávamos pegou meu
irmãozinho de 2 anos no colo, eu e meu outro irmão pelas mãos e nos levou para fora,
havia muita fumaça, as paredes que eram de madeiras pegavam fogo e estava muito
quente... Minha mãe colocou-me sentado no chão do lado de fora e disse-me para ficar com eles até ela voltar, pois minha mãe tinha que voltar para pegar minha irmãzinha que
continuava lá dentro da casa em chamas. Só que quando minha mãe tentou entrar na casa em chamas as pessoas que estavam ali não deixaram minha mãe buscar minha irmãzinha, eu via minha mãe gritar: 'minha filhinha estar lá dentro!' Vi no rosto de minha mãe o desespero, o horror e ela gritava, mas aquelas pessoas não deixaram minha mãe buscar minha irmãzinha...
Foi aí que decidi. Peguei meu irmão de 2 anos que estava em meu colo e coloquei ele no
colo do meu irmãozinho de 4 anos e disse-lhe que não saísse dali até eu voltar. Saí
entre as pessoas e quando perceberam eu já tinha entrado na casa. Havia muita fumaça,
estava muito quente, mas eu tinha que pegar minha irmãzinha. Eu sabia o quarto em que
ela estava. Quando cheguei lá ela estava enrolada em um lençol e chorava muito... Neste
momento vi caindo alguma coisa, então me joguei em cima dela para protegê-la, e aquela coisa quente encostou-se em meu rosto...
A turma estava quieta atenta ao menino e envergonhada, então o menino continuou: Vocês podem achar esta CICATRIZ feia, mas tem alguém lá em casa que acha linda e todo dia quando chego em casa, ela, a minha irmãzinha beija porque sabe que é marca de AMOR.

Para você que leu esta história, queria dizer que o mundo está cheio de CICATRIZ. Não
falo da CICATRIZ visível mas das cicatrizes que não se vêem, estamos sempre prontos a
abrir cicatrizes nas pessoas, seja com palavras ou nossas ações.
Há aproximadamente 2000 anos JESUS CRISTO, adquiriu algumas CICATRIZES em suas mãos, seus pés e sua cabeça. Essas cicatrizes eram nossas, mas Ele, morreu em nosso lugar, protegeu-nos e ficou com todas as nossas CICATRIZES.. Essas também são marcas de AMOR.


"Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba. Não ame por admiração, pois um dia você se decepciona. Ame apenas, pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação."

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

OS VERDADEIROS MORTOS


OS VERDADEIROS MORTOS

Os orgulhosos, os prepotentes e os vaidosos de seus títulos, os quais consideram a humildade, o perdão e a fé como artifícios usados pelos fracos, são, na verdade, os cegos do caminho, cujo aprendizado na Terra se restringe a um mínimo de aproveitamento espiritual. Cultivam outros valores que nada significam perante o verdadeiro sentido da vida. Nada compreendem, senão o que os olhos físicos podem enxergar. Vêem e não enxergam, ouvem, mas não compreendem.
Transitam no mundo das aparências, atendendo aos instintos muito mais do que aos sentimentos. São os mortos aos quais se referiu Jesus, ao afirmar: "Deixai aos mortos os cuidados de enterrar os seus mortos".
Essa é a verdadeira morte, e não a da sepultura. Morrem no corpo e continuam mortos no mundo espiritual, buscando os mesmos valores e as mesmas ilusões.
Vou transcrever um acontecimento como muitos dos que acontecem com os espíritos apegados aos valores da Terra:
O senhor Antonio era um dos imigrantes dos muitos que vieram para o Brasil no início do século vinte, carregando a tiracolo um baú repleto de sonhos e de esperanças. Objetivo: enriquecer com as oportunidades de trabalho que a nova terra oferecia aos estrangeiros.
Estabelecido às margens de um córrego, na periferia de uma grande cidade, tornou-se um próspero chacareiro. Trabalhou com afinco e acabou conquistando a fortuna com que sonhara.
Com o dinheiro acumulado, tornou-se proprietário de três luxuosas padarias e de uma leiteria. Apesar de tornar-se um rico negociante, dava relativo conforto aos dois filhos e a uma filha. Sua esposa, sempre servil, cumpria fielmente os afazeres de casa, cansada de tanto trabalhar desde o tempo da chácara; pleiteava do esposo a possibilidade de contratar uma empregada para ajudá-la. Antonio se negava, justificando que era preciso economizar.
Embora a possibilidade de colocar seus filhos nas melhores faculdades particulares, usou das amizades que conquistara e conseguiu matricular seus filhos nas faculdades públicas. Levava uma vida regrada. Administrava seus bens com acentuado resquício de avareza. Apesar disso, raras vezes deixou de comparecer à Igreja para assistir à missa. Ali era estimado por todos. Embora contribuísse para a construção e manutenção da paróquia, nunca se soube que tivesse dado alguma coisa para alguém. Usava constantemente o argumento de que tudo o que possuía fora conquistado à custa de muito suor e trabalho.
Às vistas do mundo, era considerado um cidadão respeitado.
Por ocasião da comemoração do dia de Santo Antonio, a paróquia armou a tradicional quermesse. Entre vinhos e petiscos, Antonio era o grande benfeitor homenageado! Todos afirmavam em cochichos:
— O senhor Antonio é um santo homem! Dizem que ele pagou todos os bancos novos da Igreja.
Cercado pelas lisonjas e pelas atitudes de reverência dos amigos, ao sorver um gole de precioso vinho português, tomba fulminado por um infarto agudo do miocárdio.
Dona Ernestina, sua esposa, depois de superar o choque que o acontecimento acarretou, providenciou seu sepultamento. Há muito o cemitério não via um velório tão concorrido. Nem um tostão foi economizado pela viúva; desde o caixão até a campa foi empregado material de primeira linha.
Os comentários em torno do acontecido exaltavam a figura do homem que se tornara um símbolo de retidão e de trabalho. O padre, em seus sermões, não poupava elogios ao eminente falecido. Constantemente, enumerava os benefícios que a Igreja recebera do ilustre paroquiano.
A viúva, com o terço desgastado pelo suor das mãos, orava quase todos os dias debruçada sobre a rica e bem cuidada sepultura.
Fora do corpo, Antonio não se deu conta do ocorrido. Entretido com os negócios aos quais mantinha preso seu coração, tornando o principal objetivo da sua vida, continuava sua rotina.
Sentado no caixa, como sempre fazia quando estava encarnado, só que agora, sobreposto ao corpo do filho mais velho, o qual não conseguia ver, e que, depois da sua morte, assumira o seu lugar, lá estava ele todos os dias recebendo a conta dos fregueses. Porém, seus fregueses agora eram outros, espíritos errantes mergulhados na mesma ilusão.
O tempo passou...
Seus filhos casaram-se. Ernestina passou a viver só, no luxuoso casarão que Antonio havia construído não para desfrutar do conforto, mas pelo investimento que representava.
Todas as noites, ao adormecer e deixar o corpo entregue ao descanso, dona Ernestina conversava com Antonio, como se os dois estivessem ainda encarnados. Ele reclamava muito dos negócios que, ao seu ver, não iam muito bem. Não se conformava com os filhos que casaram sem o seu consentimento e dizia que as noras e o genro eram aproveitadores. A esposa, também ignorando a situação, calava-se diante de tais reclamações, limitando-se a ouvi-lo. Sentado à mesa próxima ao cofre, Antonio amanhecia fazendo contas. Demonstrava excessivo nervosismo; o dinheiro parecia escoar-se. Recomendava severamente que a esposa não deixasse os filhos mexer nas suas coisas e que cuidasse de demitir a empregada que haviam contratado para ajudá-la na manutenção da casa, pois esta poderia roubá-los.
Talvez, por misericórdia de Deus, raras vezes a esposa recordava desses encontros fora do corpo. Quando conseguia, eram recordações fragmentadas que lhe causavam um grande mal estar ao retornar ao corpo pela manhã.
Seu filho, ao qual se ajustava fluidicamente, passou a registrar os sintomas do infarto que o pai havia sofrido. Sem que percebesse, estava agindo exatamente como o pai agia quando vivo. Assumira até os seus trejeitos.
Nesse mundo, próprio daqueles que se descuidaram da realidade do espírito eterno, Antonio, ao ver seus descendentes usufruindo dos valores dos quais se julgava o único com o direito de usufruir e dispor, continuou durante mais de duas décadas participando da vida terrena, influenciando o comportamento do filho e de toda a família, até que a misericórdia divina, em função do profundo estado de ignorância e revolta em que se encontrava e devido ao mal que causava a si mesmo e aos seus, providenciou-lhe uma reencarnação compulsória, situando-o novamente nas experiências terrestres, como filho do neto mais velho.
Antonio é o exemplo típico da mentalidade que predomina numa grande maioria dos encarnados.
São aqueles que batem no peito e afirmam:
— Eu fiz tudo o que um homem deve fazer na vida: criei meus filhos, dei-lhes moradia segura, alimentei-os preparando-os para o mundo. Cumpri o meu dever!
Só que eles não percebem que tudo o que afirmam ter feito, os animais também o fazem, e alguns deles o fazem melhor do que muitos de nós, porque, além de alimentarem e de oferecerem moradia segura aos seus filhos, eles os libertam sem exigir-lhes sequer a gratidão.
Vivemos a era do espírito! Não podemos continuar vivendo pela metade. Precisamos viver integralmente a nossa verdadeira natureza. Não somos carne! Somos espíritos eternos e, como tal, precisamos viver.
Agir, pensar e falar como espíritos eternos é o que mais importa neste século. É preciso desenvolvermos olhos para ver e ouvidos para ouvir. Só assim poderemos dar verdadeiro sentido a nossa existência.
Para o mundo, Antonio era o exemplo de um homem bem sucedido, mas pudemos observar que, fora do corpo, a realidade era outra.

Trecho extraído do livro: Perdão! O Caminho da Felicidade!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Brandura , Pacificação




“Bem aventurados os que são brandos, porque possuirão a terra.” (Mateus, 5:5)

“Bem aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus, 5:9)

“Ao enunciar essas Máximas, Jesus fez da brandura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência uma lei.”

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Capítulo IX. Bem aventurados os Brandos e Pacíficos. Injúrias e Violência.)

Como reagimos com brandura num mundo de violências?
Como sermos pacíficos num mundo de guerras
Quando os ódios se acirram e as revoltas crescem contra os poderosos do mundo e contra as injustiças humanas, nas lutas pelos privilégios que todos esperam e acham que têm direito, como aplicarmos a brandura e a pacificação?
Por que motivos? Com quais resultados?
Qual o significado das palavras de Cristo ao dizer que os brandos herdarão a Terra? Poderá parecer um contra-senso?
Para que a brandura e a pacificação tenham realmente lugar nos corações dos homens, muito terão que mudar os quadros atuais do panorama terrestre.
O clima nebuloso de conflitos e crimes não poderá perdurar por muito mais tempo; haverá certamente um limite aos abusos do mal. Quando? Não o sabemos. A cada um que entende que algo deve ser feito para pôr um fim a tudo isso, concentre suas forças e faça sua parte, o melhor que puder, porque eles formarão o mundo do amanhã e receberão o resultado do seu esforço, as recompensas do seu trabalho. Cada um de nós é chamado a contribuir na edificação desse mundo melhor. E entre as ferramentas e os instrumentos empregados estão, sem dúvida, a brandura e pacificação. Como utilizá-las? Vejamos:

a) Dissipando quaisquer sentimentos de contrariedade por motivos comuns que nos aborreçam;
b) Guardando a calma e a serenidade mesmo quando em nossa volta o mundo ameace desabar;
c) Mantendo a paz interior nas horas em que tudo nos induz a cometer desatinos;
d) Conciliando discórdias entre familiares ou amigos nos mal-entendidos comuns;
e) Dosando a afabilidade e a doçura no relacionamento com os nossos colegas de trabalho mais instáveis emocionalmente;
f) Apaziguando ânimos exaltados nas contendas entre parentes ou companheiros de serviço;
g) Dispensando menor importância aos bens terrenos, deixando de nos encolerizar pela ganância de adquiri-los;
h) Buscando na prece e na meditação serena a renovação das forças e disposições no bem;
i) Abastecendo os valores intelectuais com leituras freqüentes, análises e conclusões dos preceitos evangélicos a serem seguidos nas diferentes circunstâncias da existência.

“Quando a lei de amor e caridade se constituir em lei da Humanidade, deixará de existir o egoísmo; o fraco e o pacífico não serão mais explorados nem espezinhados pelo forte e o violento. Será esse o estado da Terra quando, segundo a lei do progresso e a promessa de Cristo, ela estiver transformada num mundo ditoso, pelo afastamento do mal.” (Id., ibid.)




Texto do livro:Manual Prático do Espírita - Ney P.Perez