segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Personalismo




“O egoísmo se funda na importância da personalidade; ora, o Espiritismo bem compreendido, repito-o, faz ver as coisas de tão alto, que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma perante a imensidão. Ao destruir essa importância, pó pelo menos ao fazer ver a personalidade naquilo que de fato ela é, ele combate necessariamente o egoísmo.”
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos.
Livro Terceiro. Capítulo XII. Perfeição Moral.
Parte da resposta à pergunta 917.)

Entre as expressões do egoísmo, vamos encontrar precisamente na grande maioria personalista as diversas formas de comportamento, e mesmo a maneira de ser, caracterizadas pelo estado íntimo de rigidez e de autoconfiança nas idéias ou opiniões próprias. Esses tipos de indivíduos, pelas suas atitudes, acarretam, quase sempre, conturbações no convívio em grupos.
Vejamos alguns dos aspectos reconhecidos nas pessoas predominantemente personalistas:

a) Suas opiniões ou ponto de vista são sempre os certos e os que devem prevalecer aos dos demais;
b) As experiências próprias são aquelas que servem de referência a resultados que se discutem com outros, desconsiderando em igual importância as experiências do próximo;
c) Em sociedades, as suas decisões e iniciativas, quando em cargo de mando, são quase sempre tomadas sem a participação dos demais;
d) Na condição de subalterno, nega-se à colaboração de um plano ou projeto quando sua idéia ou parecer não é aceito numa escolha em grupo;
e) Melindram-se na sua auto-importância quando não convidado a participar com destaque nas decisões relativas a empreendimentos do círculo que freqüenta, muitas vezes até afastando-se ou ameaçando afastar-se de suas funções;
f) Sente-se valorizado quando nas funções de comando e dificilmente aceita ser conduzido pela direção de outrem;
g) Aborrecem-se facilmente quando contrariado nos seus desejos ou idéias;
h) Num trabalho para obtenção de um resultado comum, acha ou age como se pudesse dispensar a cooperação dos demais integrantes;
i) A autoconvicção e a determinação nos seus propósitos são obstinadas até mesmo quando incompatíveis com a situação do momento e a harmonização pretendida;
j) Teimosia e birra, revivendo questões ultrapassadas e contendas já superadas, onde sua opinião não foi seguida.

O personalismo tem sido na humanidade, um fator impeditivo ao entendimento entre as criaturas. As lutas e separatismos são oriundos da inflexibilidade dos homens nas suas idéias e desejos. Dificilmente alguém cede em benefício da concórdia e renuncia aos seus anseios em proveito do bem comum. O egoísmo se manifesta acentuadamente nos tipos personalistas mais endurecidos. Para eles é difícil abrir mão das posições conquistadas e colaborar com espírito de caridade desinteressada.
O personalismo leva a não aceitação, obscurece qualquer compreensão e impede a cooperação. O individualismo pode resultar do isolamento de alguns do meio comunitário, que pela posição social, quer pela crença ou idéias políticas, filosóficas ou religiosas que adote. Esse individualismo pode agrupar homens dentro das mesmas tendência e idéias que lhes são comuns, constituindo, assim, sociedades, castas, seitas, corrente políticas, sociais e religiosas. Ainda desse modo é fator de divisões, separações e contendas.
O personalismo desagrega os grupos, destrói a força de união, enfraquece o espírito de colaboração, incrementa a competição, amplia a luta pela supremacia, leva à discórdia e às querelas, conduz a agressão, aos embates e até as guerras.
Ainda não aprendemos a viver num clima de cooperação, de auxílio mútuo, trabalhando juntos e unidos dentro de um objetivo, visando ao bem comum. O espírito de companheirismo, de confraternização, só será alcançado quando aprendermos a renunciar e a nos desprender do exclusivismo individual.
Ainda não entendemos com profundidade que “o saber não é tudo; o importante é fazer e, para fazer, homem nenhum dispensa a colaboração e a boa vontade dos outros”.
A importância e a superioridades que queremos dar à nossa participação, algumas vezes no próprio âmbito da tarefa doutrinária, é precisamente reflexo do nosso personalismo, da necessidade de reafirmação e da nossa vaidade. Não seremos nós que avaliaremos os resultados dos nossos trabalhos e aquilataremos a sua importância. O Plano Maior é que terá os meios de pesar os frutos do empreendimento social ou religioso ao nosso alcance, cuja relevância muitas vezes enfatizaremos na nossa maneira apaixonada de ver as coisas.
Aquele que varre diariamente o chão, como parcela de auxílio, e nessa incumbência coloca todo o seu amor e desprendimento, poderá estar dando muito mais do que aquele que ensina por palavras, escreve páginas brilhantes ou exerce cargos de direção. Como o personalismo tem prejudicado o avanço da Doutrina de Jesus! O que ainda vemos são as divergências típicas de colocações e de pontos de vista, de posições filosóficas, e, em decorrência disso, as divisões; como se animosidades oferecessem algum resultado prático e objetivo. No tocante à Doutrina dos Espíritos, entendemos que a mesma dispensa defensores, zeladores ou guardas-de-honra; ela é verdadeira e evidente por si mesma. No entanto, precisa, sim, dos exemplos dos seus seguidores, para que seja cada vez mais respeitada pelos que não a conhecem. Diz-nos o próprio Codificador: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que empresa para dominar suas más inclinações”.
Esse ainda é um desafio, e se preferirem, um paradigma que pode muito bem qualificar aqueles que se dizem seus adeptos e que se colocam como seus ardorosos defensores ou líderes, mas que resvalam exatamente nas exacerbações do personalismo, esquecidos de aplicar o esforço próprio no domínio das más inclinações. Só pelos frutos do trabalho conjunto, mais irmanados e menos pretensiosos, portanto menos personalistas, é que valorizamos em conteúdo a nossa parcela de colaboração, porque primeiro precisamos nos amar para juntos nos instruir, como ensina o Espírito de Verdade.

(Allan Kardec. O evangelho Segundo o Espiritismo.
Capítulo VI. O Cristo Consolador.
O Advento do Espírito de Verdade)


texto do livro Manual Prático do Espírita

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