quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Misericórdia




“A misericórdia é o complemento da brandura, pois os que não são misericordiosos também não são mansos nem pacíficos. A misericórdia consiste no esquecimento e no perdão das ofensas.”

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Capítulo X. Bem aventurados os Misericordiosos. Item 4)


O que seria de nós, criaturas impregnadas de defeitos, se não recebêssemos os acréscimos da Misericórdia divina?

Fossem os nossos atos avaliados pelas mesmas medidas com que julgamos os atos alheios, estaríamos inapelavelmente soterrados de tantos males acumulados em nossa volta.
E se infinitas misericórdias temos recebido, que retribuições estaremos dando ao próximo? Quais exemplos estamos seguindo?
É triste nos ver enquadrado na categoria de filhos ingratos, de um Pai Bom e Justo...
O que nos faz tão fracos e facilmente atingidos, senão a importância que nos damos, resultante do nosso orgulho, do imaginário valor que julgamos ter?
Sendo mais coerentes e conscientemente mais realistas da nossa precária condição evolutivas, de modo algum deixaríamos nos engolfar com as exterioridades e nos valorizar pelo que possivelmente detenhamos.
A misericórdia deve ser inicialmente dirigida a nós mesmos, para identificar nossas fragilidades e inconseqüências, partindo disso para a reconstrução dos novos valores da vida em alicerces sólidos e de eterna consistência.
Apoiemo-nos na observação simples de que os desejos de posse e destaque denotam, em tese, caracteres de insegurança e carência afetiva.
A atmosfera irreal da luxúria, do relacionamento requintado, não poderá satisfazer por muito tempo aqueles que já despertam para os valores da alma. Quem assim se compraz, ainda se acha preso às pretensões dos prazeres momentâneos e da vaidade.
O fato de ser admirado pelo que têm, de viver cercado socialmente, de manter um “status” econômico que traduz para o seu “ego” valores puramente convencionais é, me desculpem, pura perda de tempo! Nada disso levamos conosco como benefícios ao nosso espírito. Pura balela que tende a esvair-se, dia a dia...
Quando então nos observamos muito exigentes, ofendidos por coisas simples, arrogantes com os outros e cheios de si, vejamos aí um sinal de alerta! Está na hora de aplicar a misericórdia para conosco mesmo e refletir serenamente sobre o que estará pretendendo o nosso “ego”. O que estará nos faltando que desejamos preencher com coisas fúteis e de somenos importância?
Invariavelmente o que nos falta é substituir os prazeres humanos pelas alegrias do espírito, que só a caridade desinteressada nos proporciona. Entre as muitas maneiras de aplicar a caridade está a misericórdia. Quando conscientemente a exercemos em nós mesmos, ficamos conhecendo os seus bons efeitos e ficamos mais aptos a utilizá-la com aqueles que nos cercam.
Ser misericordioso significa estar munido de brandura e pacificação, molduras que ornamentam delicadamente os traços nítidos do perdão, da tolerância.
O nosso mundo deve ser, com as boas predisposições das criaturas viventes, enriquecido com as expressões de misericórdia. Saber desculpar até mesmo os que, no desespero das revoltas ou do que lhes falta, possam cometer crimes, assaltos, seqüestros. Entendemos que isso deva prevalecer não nos deixando manter ódio contra os que possam nos atacar nas ruas ou em nossa própria casa.
“O esquecimento das ofensas é o apanágio das almas elevadas, que pairam acima dos golpes que lhes queiram desferir.” (Id. Ibid.)

texto retirado do livro Manual Prático do Espírita de Ney P.Perez