sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Indulgência




“O homem indulgente jamais se preocupa com os maus atos alheios, a menos que seja para prestar um serviço, mas ainda assim com cuidado de atenuá-los tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, nem traz censuras nos lábios, mas apenas conselhos, quase sempre velados. Quando criticais, que dedução se deve tirar das vossas palavras? A de que vós, que censurais, não praticastes o que condenais, e que valeis mais do que o culpado. Oh, homens! Quando passareis a julgar os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos e os vossos próprios atos, sem vos ocupardes do que fazem os vossos irmãos? Quando fitareis os vossos olhos severos somente sobre vós mesmos?”

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Capítulo X. Bem aventurados os Misericordiosos.
Item 16. A Indulgência.)

Aqueles que passam pela provação experimentam mais profundamente em si mesmos os efeitos causados pela dor e sentem mais como magoam as palavras duras e inflexíveis dos que lhes fazem o prejulgamento condenatório, as censuras e as injúrias impiedosas.
Quem sofre já tem a própria sensibilidade ampliada, encontra-se em geral próximo ao desespero, chorando silenciosamente, apelando muitas vezes aos corações mais próximos e buscando nas preces o conforto espiritual. Então, não temos como e por que condenar esses que já vêm carregando tamanho peso, o que, aliás, é a condição geral de toda Humanidade. As almas assim amolecidas apresentam-se como um terreno resolvido e preparado para um novo plantio: estão prontas para a semeadura de Jesus.
Nessas ocasiões, as palavras suaves, os gestos maneirosos, de um coração indulgente, exercem-nos que sofrem uma benfazeja atuação: são expressões de carinho, lenitivos para a alma. São verdadeiros tranqüilizantes que vão acalmar em profundidade aquelas criaturas em aflição.
O remédio nessas horas é o Evangelho, melhor corretivo da alma, que a nossa própria indulgência pode também transmitir dosadamente.
A indulgência é uma das expressões da caridade e podemos muito bem motivá-la em nós mesmos, nas mais diversas ocasiões, entre as quais indicamos algumas:

a) Afastando críticas e juízos falsos a quem quer que seja;
b) Procurando discretamente interar-se das amarguras de alguém no sincero propósito de amenizá-la em sua dor;
c) Dirigindo-se com suavidade e segurança, nas observações ponderadas com antecipação, que devemos fazer em nossas relações de trabalho;
d) Transformando na atmosfera do lar as oportunidades de observações ao comportamento dos que nos foram confiados, em esclarecimento tranqüilo e objetivo, em lugar de apenas evidenciar falhas e erros;
e) Impedindo que os problemas particulares, a nós confiados por pessoas que recorrem ao auxilio do nosso grupo espírita, de modo algum transvaze das quatro paredes do ambiente de trabalho;
f) Evitando, no ímpeto de querer ajudar, a informação aos socorridos, dos quadros observados nas consultas espirituais, principalmente nos casos obsessivos mais graves. Lembremos que para quem está envolto nas sombras muita luz poderá cegar.

“Sede, pois, severos convosco e indulgentes para com os outros. Pensai n’Aquele que julga em última instância, que vê os secretos pensamentos de todos os corações, e que, em conseqüência, desculpa frequentemente as faltas que condenais, ou verbera as que desculpais, porque conhece o móvel de todas as ações.”
(Id., ibid.)

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