terça-feira, 28 de julho de 2009

Agressividade




“Se ponderasse que a cólera nada soluciona, que lhe altera a saúde e compromete a sua própria vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vítima. Mas, outra consideração, sobretudo, deveria contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa profunda não sentiria se, num acesso de arrebatamento, cometesse um ato de que teria de arrepender-se por toda a vida!”
(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Capítulo IX. Bem-aventurados os Brandos e Pacíficos. A Cólera.)

Podemos, de maneira geral, identificar as nossas manifestações de agressividade nos diferentes campos, que compreendem as emoções, os pensamentos, as palavras e os atos.

No campo das emoções – Os impulsos de agressão no nosso campo emocional como reflexos do ódio, do rancor, dos desejos de vingança, da cólera. A agressividade pode ser um estado permanente do indivíduo, para com tudo e para com todos, como um sintoma de cólera, situação que retrata o endurecimento do sentimento de criaturas nos estados íntimos mais penosos e difíceis. São as pessoas fechadas no entendimento, inflexíveis no coração.
A agressividade pode, no entanto, apresentar-se momentaneamente em algumas ocasiões, principalmente quando reagimos às ofensas recebidas. Mesmo aí, é também conseqüência da nossa condição ainda primitiva de reações animais, em que os instintos ancestrais de defesa emergem das camadas profundas, embora muito vivas do nosso subconsciente.
Em ambos os casos, permanente ou momentânea, a agressividade surge como impulso emocional, de maior ou menor intensidade, dependendo da condição da criatura, do seu grau de consciência e do esforço que realiza no combate à predominância do mal.
O Aprendiz do Evangelho, que busca localizar essas ocorrências, deve dirigir suas atenções para as manifestações do campo emocional. É esse o seu terreno de trabalho, é nele que conscientemente vai exercendo seu domínio, refreando, inicialmente, seus impulsos, para controlar-se e, em seguida, trabalhando mentalmente, de modo a dosar, com o conhecimento, novas disposições, novos sentimentos, como alguém que substitui uma emoção forte de violência por uma vibração suave de carinho.

No Campo dos Pensamentos – Quando cedemos às emoções e nelas nos envolvemos, ficamos impregnados daqueles sentimentos de animosidade que levam ao campo mental os correspondentes impulsos, geradores de pensamentos agressivos. São os diálogos íntimos que têm lugar no nosso consciente, quando nos deparamos brigando dentro de nós mesmos com alguém, nos armando assim das disposições de transmitir a outrem o veneno que armazenamos mentalmente.
Emitimos ondas vibratórias densas na direção de quem nos provocou. Ficamos, às vezes, horas arquitetando e elaborando, detalhe por detalhe, todas as palavras que iremos dirigir ao nosso algoz, que já se tornou nossa vítima, antes mesmo do entrevero.
A agressão por pensamento talvez seja a maneira mais comum em que expressamos a nossa cólera. Embora essa forma ainda não tenha se concretizado numa realidade física, direta, de agressão, já provocou seus efeitos maléficos pelas vibrações emitidas ao nosso contraditor.
Do domínio obtido na nossa esfera emocional, onde possamos ter conseguido atenuar e controlar as erupções do vulcão que regurgitava em impulsos de violência, vamos agora sanear a nossa atmosfera mental, afastando dos nossos pensamentos as idéias de revide, os planos de vingança, os propósitos de reivindicar direitos por ofensas injustas etc. Para isso, alimentamos os nossos pensamentos com idéias de tolerância, de perdão, de renúncia. Vamos nos desarmando dos projéteis mentais que estamos laçando ao próximo, envolvido nas nossas tramas. Vamos suavizando nossas emissões mentais, até conseguirmos vibrar amor em nosso íntimo, sem restrições ou condicionamentos, em direção do nosso opositor. Não importa qual virá a ser a reação ou aceitação do nosso contestador; importa sim, a nossa atitude de tolerância e perdão para com ele, importa realizar a nossa parte, dar o nosso testemunho evangélico.


No campo das palavras – Imantados nos envolvimentos magnéticos de ódio, podemos reproduzir ou devolver agressões, concretizadas nas palavras pronunciadas com intensa carga vibratória, em altos sons, de efeitos desequilibradores. À força magnética da palavra somam-se os componentes emocionais e mentais. São verdadeiros petardos explosivos que lançamos àqueles que agredimos com a nossa voz.
Os impropérios pronunciados, os desaforos, as ofensas que dirigimos são as diversas maneiras de agredirmos por palavras. E quando não represamos de início a torrente de palavras que jorra continuamente numa discussão, é mais difícil nos dominar depois. Como é desagradável e penoso o clima que se sente numa discussão, numa troca de ofensas. Os contendores ficam pálidos, mudam de expressão, se desequilibram, tremem, se envenenam mutuamente e permanecem por muito tempo nesse estado, nervosos, alterados, em profunda infelicidade. E para quê? Com que proveito?
De nada adiantam as gritarias, as altas vozes. São maus costumes que em nada ajudam. “Uma boa palavra auxilia sempre”, mas pronunciada serenamente, com profundidade, aí sim ela penetra e cala, transformando a criatura que a recebe.
Conter as palavras que possam ser pronunciadas, com resquícios de ódio, rancor, é o grande desafio aos Aprendizes do Evangelho. Articulá-las exclusivamente quando houver a certeza que ao serem pronunciadas efetivamente beneficiarão criaturas e induzirão bons propósitos.
Muito cuidado, portanto, no “falar” e sobre “o que falar”, lembrando sempre que não será por muito falar que seremos ouvidos ou convenceremos alguém, a não ser simplesmente pelas nossas atitudes e pelos nossos exemplos, incluindo-se entre esses o silenciar nas horas propícias.

No campo dos Atos – A Agressividade atinge sua manifestação mais desagradável mais desagradável e perigosa quando transborda incontidamente para o campo dos atos físicos, das agressões corporais. É o que assistimos ás vezes, entre amigos, colegas ou familiares, que, trocando ofensas, chegam às lutas corporais, não raro com ferimentos, fraturas e escoriações dos contendores, quando não aos extremos casos de morte.
È incrível observar, em nossos dias, a crescente onda de violência entre as criaturas, a reagirem por nada, sacando uma arma e cometendo, até involuntariamente, trágicos crimes.
É o que constatamos nos casos mais chocantes, comentados pelos jornais, nos crimes passionais, nas próprias diligências policiais e nos campos de encontros esportivos. E como se não bastasse, o assunto é explorado pela imprensa, rádios e emissoras de televisão, com requintes de competição; nas disputas de maiores audiências, pelos seus produtores, além de melhor técnica e todo o avanço na arte cinematográfica são utilizados para evidenciar os aspectos mais terríveis e deprimentes da violência humana. As platéias continuam vibrando com as demonstrações de força e desamor. Transfere-se, para o relacionamento entre as criaturas na sociedade, o mesmo comportamento observado e induzido pelos exemplos degradantes, apresentados nos filmes, jornais, revistas, programas de rádio e de televisão.
Somos induzidos, pelas imagens que se fixam subconscientemente, a cometer os mesmos atos de agressividade, as mesmas demonstrações de violência. E nesse contexto o Aprendiz do Evangelho é solicitado a das com esforço os seus testemunhos de brandura, compreensão e perdão, desenvolvendo sua capacidade de não se deixar levar pelos impulsos de agressão física, incompatíveis com seus ideais de amor e tolerância, que podem muitas vezes pegá-lo de surpresa, em momentos como no trânsito, no relacionamento familiar, no trabalho, nas aglomerações, nos salões de espetáculos, etc.

texto do livro :Manual P.do Espírita Ney P.Perez

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