domingo, 24 de julho de 2011

NÃO TENHO TEMPO


Saí, Senhor,

Lá fora os homens saíram,

Iam,

Vinham,

Andavam,

Corriam.

As bicicletas corriam,

Os automóveis corriam,

Os caminhões corriam,

A rua corria,

A cidade corria,

Todo o mundo corria.

Corriam todos, para não perder tempo:

Corriam ao encalço do tempo,

para recuperar o tempo,

para ganhar tempo.

Até logo, doutor, desculpe-me – não tenho tempo.

Passarei outra vez, não posso esperar mais – não tenho

tempo.

Termino esta carta – pois não tenho tempo.

Queria tanto te ajudar – mas não tenho tempo.

Não posso aceitar, por falta de tempo.

Não posso refletir, nem ler, ando assoberbado – não

tenho tempo.

Gostaria de rezar – mas… eu não tenho tempo.

Compreendes, Senhor, eles não tem tempo.

A criança está brincando, não tem tempo agora mesmo…

mais tarde…

O estudante tem seus deveres a fazer, não tem tempo…

mais tarde…

O universitário tem lá suas aulas, e tanto, tanto trabalho

que não tem tempo… mais tarde…

O rapaz pratica esporte, não tem tempo… mais tarde…

O que casou, há pouco, tem sua casa, deve organizá-la,

não tem tempo… mais tarde…

O pai de família tem seus filhos, não tem tempo… mais

tarde…

Os avós têm seus netos, não têm tempo… mais tarde…

Estão doentes. Precisam tratar-se… não têm tempo…

mais tarde…

Estão à morte, não têm…

Tarde demais… não tem mais tempo.

Assim correm todos os homens atrás do tempo, Senhor.

Passam correndo pela Terra

apressados,

atropelados,

sobrecarregados,

enlouquecidos,

assoberbados,

Nunca chegam, falta-lhes tempo,

Apesar de todos os esforços, falta-lhes tempo,

Falta-lhes mesmo muito tempo.

Com certeza, Senhor, erraste os cálculos.

Há um engano geral:

Horas curtas demais,

Dias curtos demais,

Vidas curtas demais.

Tu que estás fora do tempo, Senhor, sorris ao ver-nos

assim brigar com ele,

E sabes o que fazes.

Não te enganas quando distribuis o tempo aos homens,

A cada um dás o tempo de fazer o que queres que faça.

Mas é preciso não perder tempo,

não esbanjar tempo,

não matar o tempo,

Pois o tempo é um presente que nos dás.

Presente perecível,

Um presente que não se conserva.

Tenho tempo, Senhor,

Tenho todo o meu tempo,

Todo o tempo que me dás,

Os anos de minha vida,

Os dias de meus anos,

Os minutos de meus dias,

São todos meus.

Cabe-me preenchê-los

tranqüilamente,

calmamente,

Mas preenchê-los inteirinhos, até a borda,

Para dá-los a Ti

e que, da água sem sabor,

faças um vinho generoso

como outrora, em Caná,

fizeste para as bodas humanas.

Nesta noite eu não te peço, Senhor, o tempo de fazer

isto e depois aquilo,

Peço-te a graça de fazer, conscienciosamente, no tempo

que me dás, o que queres que eu faça.

Michel Quoist


Como estamos utilizando o tempo que Deus nos deu??

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