quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Culpa-mágoa e os microorganismos na gênese das doença




Médico e terapeuta transpessoal, com formação em Homeopatia, Dinâmica de Grupos, Terapia Regressiva a Vivências Passadas, Terapia Familiar Sistêmica e Programação Neurolingüística (PNL), Alberto Almeida, diretor científico da Associação Médico-Espírita do Pará, tratou no último Medinesp, o congresso internacional da Associação Médico-Espírita do Brasil, em junho, em São Paulo (SP), de um tema de suma importância em nossas vidas: a culpa e a mágoa, que podem, sim, causar doenças. Confira, abaixo, o que ele disse à Folha Espírita a esse respeito:
Folha Espírita : Como você define a culpa?
Alberto Almeida : A culpa é o resultado do distanciamento do ser humano das leis de amor, ou seja, das leis divinas. Quando o indivíduo toma consciência de que se afastou desses ditames e se queda inerte ante a própria culpa, esta se torna uma culpa tóxica, nociva e sem nenhum proveito. Por outro lado, aquele transgressor que se dá conta de que não agiu corretamente e assume uma postura responsável e positiva ante a sua própria consciência, passa a vivenciar aquilo que Allan Kardec chama de arrependimento. O arrependimento não pode ser confundido com a culpa tóxica, pois esta potencializa o remorso e deixa a criatura paralisada. O arrependimento é a capacidade que temos de nos fazer conscientes de que nos afastamos da lei de amor, mas nos animamos na busca do caminho reto deixado à retaguarda mediante conveniente reparação.
FE : E mágoa, o que é?
Almeida : Mágoa é o mesmo sofrimento da culpa às avessas. Na culpa eu sofro pelo mal que fiz aos outros ou a mim mesmo em função da minha pouca capacidade de apreender as leis de amor, enquanto a mágoa é a dor que sinto quando alguém me fere ou quando me deixo ferir por alguém em razão de não conseguir articular a lei de amor dentro de mim mesmo pelas vias do perdão. Quando não consigo perdoar alguém, eu me magôo. A mágoa é o reverso da culpa. A culpa eu estabeleço quando leso alguém e tenho dor de consciência; a mágoa, quando me sinto lesado por alguém e fico com raiva desse alguém.
FE : Por que algumas pessoas sentem culpa-mágoa, mas continuam suas vidas, enquanto outras param de viver, sem ânimo para continuar? Por que as reações são tão diferentes?
Almeida : Habitualmente, esse conteúdo de culpa e mágoa se entrelaçam efetivamente em nossas vidas. À proporção que vamos nos dando conta de que estamos lesando alguém ou lesando a nós mesmos, de que estamos nos sentindo lesados e machucados por alguém ou por nós mesmos, temos dois caminhos a seguir: um de alimentar a culpa e a mágoa, e outro de diluí-las. Quando as alimento, fixo-me, estagno e crio um movimento de petrificação, de imobilidade e encaminho-me para a doença, que irá desaguar no corpo caso eu não redirecione essa postura. Quando eu faço a escolha por dissolver a mágoa-culpa, estou tomando uma direção exatamente oposta, mobilizando o autoperdão, no caso da culpa, e o heteroperdão no caso da mágoa, liberando-me, portanto, daquele conflito, dando um salto de qualidade e aprendendo com aquela experiência sofrida que experimentei. Assim, são duas dinâmicas absolutamente diferentes. Uma me leva para a enfermidade, e a outra para a cura. A mágoa e a culpa que eu sustento me fazem adoecer, e a mágoa e a culpa que eu trabalho positivamente me fazem crescer.
FE : Qual a influência desses estados psicológicos no corpo físico? Por que eles favorecem a ação de microorganismos causadores de doenças?
Almeida : A mágoa e a culpa instalam-se em nível psíquico, repercutindo no corpo perispiritual. Se não fazemos o desabafo ou se não estabelecemos a corrigenda como propõe André Luiz no livro Evolução em Dois Mundos, surgem no nosso campo perispiritual zonas de remorso, resultado das nossas atitudes e posturas que estão sendo sustentadas teimosamente sem uma resolução plausível. Essa zona de remorso cria um campo de solução de continuidade na interação do corpo perispiritual e do corpo físico, abrindo espaço para a vulnerabilidade numa área do corpo, num tecido ou então no organismo por inteiro, gerando, assim, a manifestação de disfuncionalidades orgânicas ou de processos patológicos e físicos, bem como de distúrbios que envolvem as emoções ou de transtornos que envolvem a mente. Desse modo, esses conteúdos, se não são solucionados a tempo, vão se refinando até chegar ao corpo, que é a instância última que a natureza nos propõe para que possamos reverter o nosso caminho através da corrigenda, do autoperdão e do perdão ao outro, ambos originários na misericórdia que devemos ter. Por isso, Jesus propôs o bem-aventurados os misericordiosos, pois, quando não exercemos a misericórdia, caminhamos para a instalação das doenças no corpo físico.
FE : O senhor falou em autoperdão. Haveria algum limite para esse perdoar a si próprio?
Almeida : O autoperdão sempre que se manifesta é positivo. Algumas pessoas, todavia, usam a expressão autoperdão para camuflar o seu desculpismo, a sua acomodação e estabelecer as suas permissividades. Na verdade, esses que assim se posicionam estão usando um pseudo-autoperdão para se autorizarem a permanecer nos erros, nos equívocos. Esses ainda não despertaram, enganam-se a si próprios e pensam que estão convencendo os outros e enganando a Deus. Eles haverão de despertar para a necessidade do verdadeiro perdão que vem do interior da alma e que não se manifesta só com palavras, mas que se concretiza através dos esforços enaltecidos pelo exercício das boas ações.
FE : Quais os tipos de doenças físicas e mentais mais comuns relacionados à culpa-mágoa?
Almeida : O espírito André Luiz nos diz que, tirando a imprevidência, a imprudência e a falta de higiene, todas as patologias derivam da relação profunda do espírito e seus campos energéticos mais profundos, que vão aos poucos se manifestando no corpo. Então, poderíamos afirmar que na base da maioria das patologias vamos encontrar a culpa e a mágoa, uma ou outra e, habitualmente, as duas entremeadas, como sendo as verdadeiras causas das doenças infecciosas, degenerativas, alérgicas, etc., localizadas ou sistêmicas, de natureza física ou mental. Assim, vamos tendo esses conteúdos desequilibrantes de mágoa-culpa como sendo a verdadeira gênese das patologias que alcançam os homens na Terra.
FE : Quais os recursos das psicoterapias para auxiliar a cura de pessoas contaminadas por esses estados negativos?
Almeida : Toda abordagem psicológica ajuda para que se possam trabalhar essas sombras que carregamos dentro de nós mesmos. Qualquer providência que leve o indivíduo à auto-reflexão e à autopercepção, e que busque naturalmente projetá-lo para a saúde, o ajudará na superação dos seus limites, a vencer a mágoa e a trocar a culpa pelo perdão. Efetivamente, o Evangelho é, indiscutivelmente, o maior repositório de amor que a história da humanidade conheceu e está sempre nos inspirando a fazer esse trabalho de profundidade e sem nenhuma concorrência com qualquer psicoterapia ou abordagem psicológica. Ao contrário, sendo um instrumento catalisador, fomentador, agenciador e sinergicamente terapêutico, o Evangelho é o grande espaço onde podemos nos encontrar para promovermos essas mudanças tão necessárias que não se limitam ao trabalho de dissolver sombras, porém, e sobretudo, de ampliar luzes dentro de nós mesmos.
FE : O espírito desencarnado adoece também quando carrega culpa e mágoa?
Almeida : Sim, os espíritos que saem do corpo físico levando as dores da sua experiência corpórea permanecem com os mesmos sentimentos, pensamentos e fixações, o que faz com que essas entidades alterem muitas vezes a sua dinâmica orgânica espiritual, visto que o perispírito é um organismo vivo, embora espiritual, composto de células, segundo nos coloca o espírito André Luiz. Esses espíritos podem materializar no campo perispiritual, já fora do corpo físico, disfunções a tal ponto graves que acabam por perder a conformação humana e, se assumem posições de monoidéia, compõem as formas chamadas de ovóides nos processos tão clássicos de vampirismo.
FE : O que devemos fazer para não cair nesses estados infelizes?
Almeida : Desenvolver o autoconhecimento para sabermos quem nós somos e, assim, perscrutar na alma onde estão os pontos de estrangulamento do nosso ser que impedem a seiva da vida de se manifestar; mergulhar para descobrir onde está o lodo no fundo da piscina, conforme diz o espírito André Luiz, e buscar limpá-la; lançar um olhar para dentro de nós mesmos para irmos além da culpa e da mágoa e descobrir que somos feitos de material divino. Somos lucigênicos, temos uma dimensão luminosa por natureza, intrínseca à nossa própria criação. Somos seres que holograficamente detemos o criador, somos parte do divino, como filhos do altíssimo na expressão de Davi: Vós sois filhos do altíssimo, vós sois deuses. Assim, quando fazemos esse mergulho introspectivo, apercebemo-nos da nossa grandiosidade e, tomando ciência da capacidade que temos de ser co-criadores no universo, aos poucos vamos fazendo as elaborações necessárias, as transformações imprescindíveis, as mutações indispensáveis nas quais as nossas gangas vão sendo desfeitas. O metal precioso começa a surgir, então, fazendo resplandecer a imagem do divino quando alguém nos observa. Os grandes homens que fizerem isso são chamados de santos, heróis e mártires porque já conseguiram empreender essa caminhada, e dentre eles a figura de Jesus representa, inegavelmente, a nossa referência primeira e última para que possamos acessar o criador trabalhando essas nossas dificuldades interiores. Logo, para que possamos efetivamente operacionalizar esse movimento intransferível é necessário fazer o que Santo Agostinho propõe a Allan Kardec, quando sugere o autoconhecimento para que possamos melhorar o nosso caráter, combater as nossas más inclinações, de sorte que diariamente nesse exercício de autoburilamento possamos aprender a amar-nos, a autoperdoar-nos, e aprender a amar e a perdoar os outros. É desta forma que, aos poucos, vamos descobrindo, como deus que somos, o deus que é o outro, e, caminhando lado a lado, vamos entrando num processo de pacificação, de iluminação e de felicitação, não só individual, mas de felicidade coletiva, trabalhando para que surja na Terra aquele reino a que Jesus se reportava. É necessário, portanto, fazer esse movimento de ruptura com a cristalização para operarmos a nossa cristificação.
O espírito André Luiz nos diz que, tirando a imprevidência, a imprudência e a falta de higiene, todas as patologias derivam da relação profunda do espírito e seus campos energéticos mais profundos, que vão aos poucos se manifestando no corpo.
Quando alimentamos a culpa e a mágoa, fixamo-nos, estagnamos e criamos um movimento de petrificação, de imobilidade e encaminhamo-nos para a doença, que irá desaguar no corpo caso não redirecionemos essa postura.

artigo da Folha Espírita

Nenhum comentário: